Histórias de Buzão: O Evangélico, o funkeiro e o Professor


Parece que o sol resolveu torrar o juízo de um hoje, 32º de temperatura, trânsito quase parado, eu com 2 sacolas nos braços, nenhum lugar pra sentar neste ônibus, mas apesar disso tudo, o veículo está um tanto vazio, só não tem lugar pra sentar, mas também ninguém pede minhas sacolas pra segurar, que coisa!

É aí que entra um "evangélico" pela porta de trás do ônibus, daí pensei: "lá vem os meninos pedir pra comprar algo, se for interessante quem sabe!" Pra minha surpresa ele nada pediu, ao contrário, começou a falar pelos cotovelos, agora pensem, naquele calor de 32 graus e o cara falando, falando, falando, citando leituras bíblicas decoradas e falava e falava, nossa eu estava ficando estressada com os gritos dele. Quando eu achava que iria terminar, recomeçava e ainda dizia: "quem quer que eu ore por você? Não tenham vergonha, é só levantar o braço! Ninguém? Então vou cantar" e daí cantarolava louvores e mais louvores em um certo tom desafinado e alto, nossa! Aquilo estava se tornando estressante.

Um carinha passa pela catraca e ao ver o evangélico entoar os cantos, liga o o som externo do seu celular com uma melodia tira sarro do evangélico: "o que as novinhas querem é... tará tará tará", um refrão tipo assim. Agora o bicho pega aqui dentro do buzão, cruzes! Mas, vocês acham que acabou por aí? kkk Agora foi que piorou, o evangélico começou a falar mais alto e o som do funk tomou conta do buzão, eu via a hora desses dois se pegarem numa briga, mas nada disso aconteceu pra desespero da torcida, ficaram apenas se encarando e nenhum dos dois cediam...

O ônibus continuou seu percurso e graças a Deus meu ponto se aproximava, mas trânsito que era bom de melhorar, nada!

Próximo ponto chegou, agora sobe um senhor simpático e já fica detido na catraca, a cobradora olha pra cara dele que já resmunga baixo, me chamou a atenção, ele tentava passar o dedo indicador no sistema eletrônico do passe e nada da catraca ceder e registrar sua passagem, tentou algumas vezes mais e nada de liberar, quando finalmente conseguiu, ele abre a boca em alto e bom som e diz: "Finalmente a bicha funcionou, também a R$ 3,10 essa passagem né minha filha, isso é culpa do Di.. Diesel" (e achamos que ele iria falar mal da presidenta), ao ouvir essa voz dele resmungar, lembrei: "é o professor do outro dia que também falou pelos cotovelos", não é que eu estava certa, o cara começou a falar, falar, falar, falou mal do governo, falou mal do aumento da passagem, falou até do estado islâmico, a cobradora tadinha, nada podia fazer a não ser escutar, porque ele empacou na catraca e nada de sair. Duas moças que estavam perto de mim falaram: "onde desliga esse senhor?" Parece engraçado, mas ninguém merece nesse calor de 32 graus, ônibus com 3 figuras que está tirando todos do sério, não tem lugar pra sentar, trânsito parado e eu com duas sacolas no braço sem ninguém pedir pra segurar. Gente, que mundo é esse?

Finalmente, o ponto do terminal chegou, adivinha quem desceu primeiro e ainda reclamando? "Ninguém quer que eu ore não né? Pois, povo que não ora tá condenado!", o evangélico. O funkeiro desce também e diz: "Meu fio se ligue no funk e vem pro mundo saber o que é bom" e o professor conclui a viagem dizendo: "povo doido, vão ler, vão estudar pra serem inteligentes!".

Os passageiros se entreolharam e começaram a rir dizendo: "nós merecemos esta hora".

Conclusão: Respeito é bom e todos gostam, mas numa sociedade doente como essa nossa com a falta de amor e alguém pra conversar e te ouvir, somos obrigados a suportar o dever de casa que não fazemos há tempos. Exigir silêncio e respeito em condições adversas é difícil, mas se começar por você a mudar algumas atitudes, quem sabe as pessoas começam a enxergam os limites dos outros. Pensem nisso!

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