Bernardo Bertolucci, cineasta italiano, morre aos 77 anos

Diretor do polêmico 'Último tango em Paris', 'O último imperador' e 'Os sonhadores' morreu em Roma. Imprensa italiana cita 'longa doença', mas causa da morte não foi revelada.

O cineasta italiano Bernardo Bertolucci, presidente do júri da competição oficial, chega ao tapete vermelho do 70º Festival de Veneza, em 2013 — Foto: Tiziana Fabi/AFP Photo
O cineasta italiano Bernardo Bertolucci, diretor de filmes como o polêmico
 "Último tango em Paris" (1972), o premiado "O último imperador" (1987) e 
"Os sonhadores" (2003), morreu nesta segunda-feira (26) aos 77 anos.
De acordo com a imprensa italiana, ele estava em casa, em Roma, mas 
a causa da morte não foi revelada. O jornal "Corriere Della Sera" cita "uma 
longa doença".
Considerado o último grande mestre do cinema italiano, com filmes de 
forte teor erótico, político e psicológico, Bertolucci fez ainda obras-primas 
como "Antes da revolução" (1964), "1900" (1976), "O conformista" (1970).
Com "O último imperador" (1987), levou o Oscar de melhor diretor (é o único 
italiano a ter levado o prêmio), melhor filme e melhor roteiro. O longa faturou, ao
 todo, nove estatuetas. Em maio de 2011, ele recebeu uma Palma de Honra, 
no Festival de Cannes, pelo conjunto de sua obra.
Além de filmes de ficção, Bertolucci dirigiu documentários. Iniciou a carreira 
artística como poeta e também se destacou como roteirista. Assinou, por 
exemplo, "Era uma vez no oeste" (1968), de Sergio Leone.
Ele era casado desde 1978 com Clare Peploe.

Bernardo Bertolucci (esq.) conversa com os atores Marlon Brando e Maria Schneider durante gravação de 'O último tango em Paris' em fevereiro de 1973 — Foto: AP Photo


Polêmica de 'Último tango...'


os últimos anos, Bernardo Bertolucci vinha sendo alvo de críticas após ter 
vindo à tona um vídeo no qual ele admitiu ter filmado uma cena de sexo 
não consentida em "Último tango em Paris".
No vídeo, gravado originalmente em 2013 mas republicado por uma 
ONG espanhola no final de 2016, Bertolucci conta que a atriz Maria 
Schneider (1952-2011), na época com 19 anos, não sabia de antemão
 o que aconteceria numa cena na qual Marlon Brando (1924-2004) usa 
manteiga como lubrificante.
A sequência é uma das mais famosas e polêmicas da história do cinema 
e intensificou a censura ao longa ao redor do mundo.
"A sequência da manteiga foi uma ideia que tive com Marlon na manhã 
anterior à filmagem", lembrou o diretor. "Fui horrível com Maria, porque 
não lhe disse o que iria acontecer". De acordo com ele, a intenção era fazer 
Schneider reagir "como uma menina, não como um atriz".
No vídeo, Bertolucci conta ainda que não voltou a ver a atriz depois das 
gravações do filme, porque "ela o odiava". Na época, o diretor afirmou 
sentir-se culpado pelo episódio, mas não arrependido. "Para fazer filmes 
e obter algo, às vezes precisamos ser completamente frios."
Em uma entrevista de 2007 ao tabloide britânico "Daily Mail", Schneider 
afirmou que se sentiu humilhada e "um pouco estuprada" durante as filmagens. 
A atriz contou que a cena não estava no roteiro original e que foi informada 
sobre o conteúdo pouco antes da filmagem, mas disse que não houve sexo real.
"Marlon me disse: 'Maria, não se preocupe, é só um filme'. Mas, durante a 
cena, mesmo que o que Marlon estava fazendo não fosse real, eu estava 
chorando lágrimas de verdade", disse.
"Eu estava com tanta raiva. Eu deveria ter ligado para o meu agente ou ter 
pedido que meu advogado fosse ao set porque você não pode forçar 
alguém a fazer algo que não está no roteiro, mas na época eu não sabia disso."
"Último tango em Paris" teve duas indicações ao Oscar: melhor diretor e 
melhor ator (para Brando).

Poeta

O diretor italiano Bernardo Bertolucci — Foto: Reuters

Bernardo Bertolucci nasceu em 16 março de 1941, em Parma. Seu 
pai, Attilio, era professor de história da arte, poeta, escritor e crítico de 
cinema.
Influenciado por Attilio, Bernardo começou a carreira artística também 
como poeta (chegou a ganhar prêmios literários). Cursou Literatura 
Moderna na Universidade de Roma, mas depois optou por se dedicar 
ao cinema.
Inicialmente, trabalhou como assistente de direção em "Accatone – 
Desajuste social" (1961), do cinesta e escritor Pier Paolo Pasolini 
(1922-1975), amigo de Attilio.
Foi também por influência de Pasolini que Bertolucci dirigiu seu primeiro 
longa , "A morte" (1962). Com 21 anos, fez uma estreia com críticas 
negativas. O segundo filme, porém, "Antes da revolução" (1964), teve 
recepção mais favorável.
Da produção inicial, outros destaques foram "O conformista" (1970), 
que rendeu indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado, e "A 
estratégia da aranha" (1970).
Nos anos 1970, além de "O último tango...", dirigiu "1900"( 1976), q
ue tem no elenco grandes nomes, como Robert De Niro, Burt Lancaster, 
Gérard Depardieu e Donald Sutherland.
Ao longo das décadas seguintes, Bertolucci lançou filmes que 
aumentaram sua popularidade e novamente com elencos estrelados, 
caso de "O céu que nos protege" (1990), com John Malkovich e Debra 
Winger, e "O pequeno Buda" (1993), protagonizado por Keanu Reeves. 
Em "Beleza roubada" (1996), dirigiu Jeremy Irons e a então novata Liv Tyler.
Já neste século, uma de suas obras mais conhecidas é "Os sonhadores" (2003), 
com Eva Green, Louis Garrel e Michael Pitt vivendo três jovens em Paris 
durante o maio de 1968.
O último longa de Bernado Bertolucci é "Eu e você" (2012).

Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2018/11/26/
morre-cineasta-bernardo-bertolucci.ghtml

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